quarta-feira, 15 de agosto de 2012

NOSSA SENHORA DAS DORES NA ROTA DO CANGAÇO: história, cultura e turismo

A história de Nossa Senhora das Dores, iniciada no século XVII com o massacre dos índios enforcados, é povoada de conflitos e resistência. Com uma economia agrária, baseada no plantio de algodão e na criação de gado, nas décadas de 1920 e 1930 o município passou a fazer parte da rota de cangaceiros que aterrorizavam o nordeste brasileiro. Dentre eles, estava o “Capitão” Virgulino Ferreira da Silva, o afamado Lampião, que passou pela região ao menos em duas oportunidades. Na primeira delas, num dia de feira do ano de 1929, arrecadou uma quantia em dinheiro sem maiores incômodos. Já na segunda vez, em 1930, encontrou resistência, já que a cidade estava guarnecida por volantes e trincheiras, não chegando a nela adentrar. Porém, em suas adjacências o bando cometeu a castração de Pedro José dos Santos (vulgo Batatinha), além dos assassinatos de um deficiente mental (cujo nome não ficou registrado na história) e de José Elpídio dos Santos (filho de um dos chefes das trincheiras) - crime pelo qual foi instalado o único processo judicial conhecido contra o “rei do cangaço” em todo Estado – dentre outras ações. Entretanto, além de Lampião, outros de seus asseclas fizeram de Dores sua rota, como é o caso de José Ribeiro Filho, o Zé Sereno e seu bando, chegando até a haver combates envolvendo este grupo no município e que ficaram conhecidos como “Fogo do Salobro”, no qual um dos cangaceiros foi morto e decapitado, e “Fogo do Cajueiro”. O tema cangaço tem sido recorrente nas pesquisas do Projeto Memórias. Tais pesquisas, tem resultado na produção de artigos, documentários, filme e discussões com a comunidade, sempre focando na questão da dorensenidade, pois, trazem à tona fatos de relevância histórica até então desconhecidos da maioria, tornado evidentes diversos aspectos da cultura do município e atuando assim na valorização do patrimônio histórico local e na construção dos laços de identidade dorense. No que se refere à presença de Lampião e outros bandoleiros em solo dorense, as pesquisas do Projeto Memórias tendem a colocar o município na rota sergipana do turismo do cangaço, e através da história gerar emprego e renda à população local. Afinal, vários são os lugares de memória ligados a este fenômeno existentes em terras enforcadenses. Temos a “Gruta da Salvação” (povoado Cruzes) e a “Mata da Serrinha” (povoado Serra) que eram locais onde a população se escondia quando das passagens dos cangaceiros pela região, além das fazendas Cajueiro (propriedade do Coronel Figueiredo invadida pelo bando de Zé Sereno), Candeal (local do assassinato de José Elpídio) e Salobro (onde em combate com a volante morreu e foi decapitado um cangaceiro do bando de Zé Sereno). E para socializar com a comunidade estas pesquisas e discutir a importância de se preservar estes locais de memória, inclusive como atrativos turísticos, o Projeto Memórias promoverá no dia 31 de agosto de 2012 o Simpósio e Exposição N. Sra. das Dores na rota do cangaço: história, cultura e turismo. Durante o evento, haverá exibição de documentário sobre os lugares citados acima, além de palestra com o escritor e delegado de polícia sergipano Archimedes Marques, que na oportunidade estará lançado seu livro “Lampião contra o Mata Sete”, que discute o mito do “Lampião gay”. Tudo isso tendo como fundo musical um bom forró pé-de-serra. O evento faz parte das atividades do Ponto de Cultura “Memória, Cultura & Cidadania”, uma parceria entre o Projeto Memórias, a Secretaria de Estado da Cultura⁄Governo de Sergipe e o Ministério da Cultura⁄Governo Federal. Por João Paulo Araújo de Carvalho * publicado na edição de agosto da revista Perfil

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