segunda-feira, 6 de junho de 2011

POVO SEM MEMÓRIA É POVO SEM HISTÓRIA!

Texto publicado na 7ª edição do Informativo Cultural Memórias Dorenses (abril de 2011)

Este Informativo, que hoje chega a sua 7ª edição, deixando de ser anual e passando a ser semestral, surgiu da necessidade de registro das memórias dorenses, que durante décadas vinham sendo vítima do descaso em nosso município. No editorial da 1ª edição (outubro de 2005), por exemplo, denunciávamos este descaso: documentos públicos entregues ao fogo, patrimônio arquitetônico “tombado” pela faina de destruição, nossa cultura perdendo espaço para “estrangeirismos”.
Contamos a história de nossas ruas, através de seus nomes, cuja memória hoje está sendo dilapidada por constantes alterações de nomenclatura, gerando transtornos aos seus moradores e jogando na lata do lixo sua história em detrimento de celebridades momentâneas que (em alguns casos para não sermos injustos) nada fizeram pelo município.
Além do mais, o Memórias Dorenses foi o lugar de denúncia das injustiças históricas cometidas contra muitos ilustres desconhecidos que deram sua contribuição à comunidade local e não vinham sendo reconhecidos por isso. Afinal, a memória não é formada só de lembranças, mas também de esquecimentos, involuntários ou não!
Mas, eis que no dia 22 de outubro de 2010, quando realizávamos a Feira Cultural do Projeto Memórias, em comemoração aos 90 anos da cidade, era sancionada a Lei nº 170, pondo fim a uma das confusões mais graves com nossa história: a idéia anacrônica de que foi a 23 de outubro de 1920 que se deu a emancipação política do município.
No editorial da última edição (outubro de 2010), intitulado “Enforcaram nossa emancipação”, fizemos mais uma vez esta abordagem, mostrando, como em artigo da edição nº 5 (outubro de 2009) já fizera o Dr. José Lima Santana, que a emancipação política de Dores ocorreu em 11 de junho de 1859, quando da criação do município da Vila de Nossa Senhora das Dores. Em 23 de outubro de 1920 ocorrendo a elevação da sede municipal à categoria de cidade.
Esta discussão foi levada à Câmara Municipal, cujos edis foram convencidos da importância de se corrigir este erro que nos envergonhava diante de nós mesmos, diante de nossa história, e da história da própria Câmara, criada junto com o município naquele 11 de junho de 1859. Neste ínterim, elaboramos o projeto de lei, que foi assinado pelo presidente da Casa, o vereador Raimundo Jorge dos Santos, aprovado por unanimidade pelos demais vereadores em 18 de outubro de 2010, divulgado em sessão solene que compôs a Feira Cultural do Projeto Memórias (20⁄10⁄10) e, finalmente, sancionado pelo prefeito Aldon Luiz dos Santos em 22 de outubro de 2010 (veja a transcrição ao lado).
A Lei nº 170 de 22 de outubro de 2010 representa, portanto, um feito histórico, num dia histórico. O dia no qual Dores fez as pazes consigo mesma, pois se fez justiça com sua história, “acostumada” a ser vítima do descaso que há décadas vinha sendo empreendido com as memórias dorenses.

Por João Paulo Araújo de Carvalho
Professor, historiador, mestre em história, coordenador do Projeto Memórias. joaopaulohistoria@gmail.com


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